terça-feira, 25 de agosto de 2009



O TOQUE DA FÉ

Marcos 5.24-34

INTRODUÇÃO

Jesus foi expulso de Gadara, mas foi calorosamente recebido por uma multidão do outro lado do mar, em Cafarnaum. A multidão o comprimia, mas apenas duas pessoas de destacam nesse relato entrelaçado: Jairo e a mulher hemorrágica. Warren Wiersbe diz que esses dois personagens ensinam-nos alguns contrastes:
1) Jairo era um líder da sinagoga; ela uma mulher anônima;
2) Jairo era um líder religioso; ela era excluída da comunidade religiosa;
3) Jairo era rico; ela perdera todos os seus bens em vão buscando saúde;
4) Jairo teve a alegria de conviver 12 anos com sua filhinha que agora está à morte; ela sofre há 12 anos uma doença que a impede de ser mãe;
5) Jairo faz um pedido público a Jesus; ela aproxima-se de Jesus com um toque silencioso e anônimo;
6) Jesus atende a ambos, mas a atende primeiro.
A mulher hemorrágica ensina-nos sobre as marcas de uma fé salvadora: 1) Uma fé nascida do desengano (v. 26); 2) uma fé reflexiva (v. 28); 3) uma fé resoluta (v. 27); 4) uma fé que estabelece contato com Cristo (v. 27); 5) uma fé sincera (v. 33); 6) uma fé confessada em público (v. 33) e 7) uma fé recompensada (v. 34).
William Hendriksen comentando esse episódio, fala sobre três características da fé dessa mulher: fé escondida, fé recompensada e fé revelada.

I. O TOQUE DA FÉ COMEÇA COM A CONSCIENCIA DE UMA GRANDE NECESSIDADE – v. 25

1. Um sofrimento prolongado – v. 25

Aquela mulher hemorrágica buscou a cura durante doze anos. Foi um tempo de busca e de esperança frustrada. Foram doze anos de enfraquecimento constante; anos de sombras espessas da alma, de lágrimas copiosas, de noites indormidas, de madrugadas insones, de sofrimento sem trégua. Talvez você também esteja sofrendo há muito tempo apesar de ter buscado solução em todos os caminhos. A Bíblia diz que a esperança que adia adoece o coração (Pv 13.12).

2. Um sofrimento que gera desesperança – v. 26

O Talmud dava onze formas de cura para a hemorragia. Ela buscou todas. Ela procurou todos os médicos. Aquela mulher gastou tudo que tinha com vários médicos. Era uma mulher batalhadora e incansável na busca da solução para sua vida. Ela não era passiva nem omissa. Ela não ficou amuada num canto reclamando da vida, antes correu atrás da solução. Ela bateu em várias portas, buscando uma saída para o seu problema. Mas, apesar de todos os seus esforços, perdeu não só o seu dinheiro, mas também progressivamente a sua saúde. Ela ficava cada vez pior.
A sua doença era crônica e grave. A medicina não tinha resposta para o seu caso. Os médicos não puderam ajudá-la.

3. Um sofrimento que destruía os seus sonhos – v. 25

Aquela mulher perdia sangue diariamente. Ela tinha uma anemia profunda e uma fraqueza constante. O sangue é símbolo da vida. Seu diagnóstico era sombrio; ela parecia morrer pouco a pouco; a vida parecia esvair-se aos borbotões do seu corpo. Ela não apenas estava perdendo a vida, como não podia gerar vida. Seu ventre em vez de ser um canteiro de vida, tinha se tornado o deserto da morte. Essa mulher havia chegado à “estação desesperança”. Foi então que ouviu falar de Jesus.

4. Um sofrimento que produzia terríveis segregações – v. 25

A mulher hemorrágica enfrentou pelo menos três tipos de segregação, por causa da sua enfermidade:
Em primeiro lugar, a segregação conjugal. Segundo a lei judaica, a mulher com fluxo de sangue não podia relacionar-se com o marido. Se ela era solteira não podia casar-se; se era casada, não podia relacionar-se com o marido e possivelmente seu casamento já estava abalado. A mulher menstruada era niddah (impura) e proibida de ter relações sexuais. Os rabinos ensinavam que se os maridos teimassem em relacionar-se com elas nesse período, a maldição viria sobre os filhos. O rabino Yoshaayah ensinou que um homem devia se afastar de sua mulher já quando ela estivesse próxima da menstruação. O rabino Shimeon bar Yohai, ao comentar Levítico 15.31, afirmou que “ao homem que não se separa da sua mulher perto da menstruação dela, mesmo que tenha filhos como os filhos de Arão, estes morrerão”. Mulheres menstruadas transferiam sua impureza a tudo que tocavam inclusive utensílios domésticos e seus conteúdos. Toda cama sobre que se deitar durante os dias do seu fluxo e toda coisa sobre que se assentar será imunda. Os rabinos decretavam que até o cadáver de uma mulher que morreu durante sua menstruação devia passar por uma purificação especial com água.
Em segundo lugar, a segregação social. Uma mulher com hemorragia não podia relacionar-se com as pessoas; antes, devia viver confinada, na caverna da solidão, no isolamento, sob a triste realidade do ostracismo social. Essa mulher era tratada quase como se estivesse com lepra. Por doze anos ela não pudera abraçar nenhum familiar sem causar-lhe dano. Doze anos sem ir ao culto. Ela vivia possuída de vergonha, com a auto-estima amassada. Por isso, chegou anonimamente para tocar em Jesus, como medo de ser rejeitada, pois quem a tocasse ficaria cerimonialmente impuro.
Em terceiro lugar, a segregação religiosa. Uma mulher com fluxo de sangue não podia entrar no templo nem na sinagoga para adorar. Ela estava proibida de participar do culto público, visto que estava em constante condição de impureza ritual (Lv 15.25-33). Era considerada impura, portanto, impedida de participar das festas e dos cultos.

II. O TOQUE DA FÉ ACONTECE QUANDO VOLTAMO-NOS DA NOSSA DESILUSÃO E BUSCAMOS A JESUS – v. 27

1. Os nossos problemas não apenas nos afligem, eles também nos arrastam aos pés de Jesus – v. 27
A mulher hemorrágica depois de procurar vários médicos, sem encontrar solução para o seu problema, buscou a Jesus. Ela ouvira falar de Jesus e das maravilhas que ele fazia (5.27). A fé vem pelo ouvir (Rm 10.17). O que ela ouviu produziu tal espírito de fé que dizia para si: “Se tocar tão somente em seu manto ficarei curada” (5.28). Ele não somente disse que seria curada se tocasse nas vestes de Jesus, mas de fato ela tocou e foi curada. Por providência divina, às vezes, somos levados a Cristo por causa de um sofrimento, de uma enfermidade, de um casamento rompido, de uma dor que nos aflige. Essa mulher rompeu todas as barreiras e foi tocar nas vestes de Jesus.

2. Quando os nossos problemas parecem insolúveis, ainda podemos ter esperança – v. 27, 28

A mulher ouviu sobre a fama de Jesus (5.27). Quando tudo parece estar perdido, ainda há uma saída, com Cristo. Ela ouviu sobre a fama de Jesus: que ele dava vista aos cegos e purificava os leprosos; que libertava os cativos e levantava os coxos; que ressuscitava os mortos e devolvia o sentido da vida aos pecadores que se arrependiam. Então, ela foi a Jesus e foi curada.
Jesus estava atendendo a uma urgente necessidade: indo à casa de Jairo, um homem importante, para curar a sua filha que estava à morte; mas Jesus pára para cuidar dessa mulher. Ela pode não ter valor nem prioridade para a multidão, mas para Jesus ela tem todo o valor do mundo.

3. Quando nós tocamos as vestes de Jesus com fé, podemos ter a certeza da cura – v. 28, 29

No meio da multidão que comprimia a Jesus, a mulher tocou em suas vestes e ele perguntou: “Quem me tocou nas vestes?” (5.30). O que houve de tão especial no toque dessa mulher? Larry Richards destaca quatro características do toque dessa mulher nas vestes de Jesus:
Em primeiro lugar, foi um toque intencional. Ela não tocou em Jesus acidentalmente; ela pretendia tocá-lo.
Em segundo lugar, foi um toque proposital. Ela deseja ser curada do seu mal que a atormentava há doze anos.
Em terceiro lugar, foi um toque confiante. Ela foi movida pela fé, pois acreditava que Jesus tinha poder para restaurar sua saúde.
Em quarto lugar, foi um toque eficaz. Quando ela tocou em Jesus, ficou imediatamente livre do seu mal. Sua cura com completa e cabal. Ela recebeu três curas distintas: A primeira cura foi física. O fluxo de sangue foi estancado. A segunda cura foi emocional. Jesus não a desprezou, mas a chamou de filha (5.34) e lhe disse: “Tem bom ânimo” (Mt 9.22). A terceira cura foi espiritual. Jesus lhe disse: “A tua fé te salvou” (5.34).

III. O TOQUE DA FÉ ACONTECE QUANDO O CONTATO PESSOAL COM JESUS É O NOSSO MAIOR OBJETIVO DE VIDA – v. 27-34

1. Muitos comprimem a Cristo, mas poucos o tocam pela fé – v. 27, 34

Jesus frequentemente estava no meio da multidão. Ele sempre a atraiu, não obstante a maioria das pessoas que o buscava não tinha um contato pessoal com ele. Muitos seguem a Jesus por curiosidade, mas não auferem nenhum benefício dele. Jesus conhece aqueles que o tocam com fé no meio da multidão.
Agostinho comentando essa passagem disse que uma multidão o aperta, mas só essa mulher o toca. Williams Lane disse corretamente: “foi o alcance de sua fé, e não o toque de sua mão, que lhe assegurou a cura que buscava”. Não foi o toque da superstição, mas da fé. Pela fé nós cremos, vivemos, permanecemos firmes, andamos e vencemos. Pela fé nós temos paz e entramos no descanso de Deus. A multidão vem e a multidão vai, mas só essa mulher o toca e só ela recebe a cura. Aos domingos, a multidão vem à igreja. Aqui e ali alguém é encontrado chorando por seus pecados, regozijando-se em Cristo pela salvação e então Jesus pergunta: quem me tocou?
Muitas pessoas vêm à igreja porque estão acostumadas a vir. Acham errado deixar de vir. Mas estar em contato real com Jesus não é o que esperam acontecer no culto. Elas continuam vindo e vindo até Jesus voltar, mas só despertarão tarde demais, quando já estiverem diante do tribunal de Deus para darem contas da sua vida.
Alguns vêm para orar, mas não tocam em Jesus pela fé. Outros se assentam ao redor da mesa do Senhor, mas não têm comunhão com Cristo. São batizados, mas não com o batismo do Espírito Santo. Comem o pão e bebem o vinho, mas não se alimentam de Cristo. Cantam, oram, ajoelham, ouvem, mas isso é tudo; eles não tocam o Senhor nem vão para casa em paz.
Oh, possivelmente esse seja o maior número na igreja: é como a multidão que comprime Jesus, mas não o toca pela fé. Vêm à igreja, mas não se encontram com Jesus. Não abra mão de tocar hoje nas vestes de Jesus. Não se contente apenas em orar mecanicamente, toque em Jesus pela fé. Não se contente em apenas ouvir um sermão, toque hoje nas vestes de Jesus. A mulher hemorrágica não estava apenas no meio da multidão que apertava Jesus, ela tocou em Jesus pela fé e foi curada! Seu toque pode ser descrito de quatro formas:
Em primeiro lugar, ela tocou em Jesus sob grandes dificuldades. Havia uma grande multidão embaraçando seu caminho. Ela estava no meio da multidão apesar de estar doente, fraca, impura e rejeitada.
Em segundo lugar, ela tocou em Jesus secretamente. Vá a Jesus, mesmo que a multidão não o perceba ou que sua família não saiba, pois ele pode libertar você do seu mal.
Em terceiro lugar, ela tocou em Jesus sob um senso de indignidade. Por ser cerimonialmente impura, estava coberta de vergonha e medo. Conforme o ensinamento judaico, o toque dessa mulher deveria ter tornado Jesus impuro, mas foi Jesus quem a purificou.
Em quarto lugar, ela tocou em Jesus humildemente. Ela o tocou por trás, silenciosamente. Ela prostrou-se trêmula aos seus pés. Quando nos humilhamos, Deus nos exalta. Ela não tocou Pedro, João ou Tiago, mas Jesus e foi liberta do seu mal.

2. Aqueles que tocam a Jesus pela fé são totalmente curados – 34

Dois fatos podem ser destacados sobre a cura dessa mulher:
Em primeiro lugar, sua cura foi imediata. A cura que ela procurou em vão durante doze anos foi realizada num momento. A cura que os médicos não puderam lhe dar, foi lhe concedida instantaneamente. Muitas pessoas por vários anos correm de lugar em lugar, andam de igreja em igreja, buscando paz com Deus, mas ficam ainda mais desesperadas. Porém, em Cristo há cura imediata para todas as nossas enfermidades físicas, emocionais e espirituais. Foi assim que Jesus curou aquela mulher.
Em segundo lugar, sua cura foi completa. Embora seu caso fosse crônico, ela foi completamente curada. Há cura completa para o maior pecador. Ainda que uma pessoa seja rejeitada ou esteja afundada no pântano do pecado, há perdão e cura para ela. Ainda que uma pessoa esteja possessa de demônios, há cura para ela. Ainda que sua mente esteja cheia de dúvidas, elas poderão ser dissipadas quando você tocar em Jesus. Ainda que você tenha caído depois da cura, há restauração para você se você tocar em Jesus. A fonte ainda está aberta.
Larry Richards diz que o toque de Jesus salvou essa mulher fisicamente ao restaurar sua saúde; salvou-a socialmente ao restaurar sua convivência com outras pessoas na comunidade; e salvou-a espiritualmente, capacitando-a a participar novamente da adoração a Deus no templo e das festas religiosas de Israel.
Hoje você pode tocar nas vestes de Jesus e ver estancada sua hemorragia existencial. Toque nas vestes de Jesus, pois ele pode pôr um fim na sua angústia.

3. Aqueles que tocam em Jesus são conhecidos por ele – v. 32, 33

Jesus perguntou: “Quem me tocou nas vestes?” (5.30). Você pode ser uma pessoa estranha para a multidão, mas não para Jesus. Seu nome pode ser apenas “alguém” e Jesus saberá quem é você. Se você o tocar haverá duas pessoas que saberão: você e Jesus. Se você tocar em Jesus agora, talvez seus vizinhos possam não ouvir isto, mas isto será registrado nas cortes do céu. Todos os sinos da Nova Jerusalém irão tocar e todos os anjos irão se regozijar (Lc 15.10) tão logo eles souberem que você nasceu de novo.
O evangelista Lucas registra: “Alguém me tocou, porque senti que de mim saiu poder” (Lc 8.46). Talvez muitos não saberão o seu nome, mas ele estará registrado no Livro da Vida. O sangue de Cristo estará sobre você. O Espírito de Deus estará em você. A Bíblia diz que Deus conhece os que são seus (2 Tm 2.19). Se você tocar em Jesus, o poder da cura tocará em você e você será conhecido no céu.

4. Aqueles que tocam em Jesus devem fazer isto conhecido aos outros – v. 33

Você precisa contar aos outros tudo o que Cristo fez por você. Jesus quer que você torne conhecido aos outros o que ele fez em você e por você. Não se esgueire no meio da multidão secretamente. Não cale a sua voz. Não se acovarde depois de ter sido curado. Talvez você já conheça o Senhor há anos e ainda não o fez conhecido aos outros. Rompa o silêncio e testemunhe! Vá e conte ao mundo o que Jesus fez por você. Saia do anonimato! William Hendriksen diz que quando as bênçãos descem dos céus, elas devem retornar em forma de ações de graça por parte dos que foram abençoados.

CONCLUSÃO

Jesus disse para mulher: “Vai-te em paz, e fica livre do teu mal” (5.34). A bênção com que Jesus despediu a mulher é uma promessa para você agora. Talvez, você iniciou essa leitura com medo, angústia e uma hemorragia existencial. Mas, agora, você pode voltar para casa livre, curado, perdoado, salvo. Vai em paz e fica livre do seu mal!

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